Jim, um cachorro idoso que teve a sorte de ser adotado

O Jim!
O Jim!

São cerca de 20 milhões de cães perambulando pelas ruas do Brasil, diz a Organização Mundial da Saúde. E apesar de estarmos evoluindo na conscientização sobre a importância da castração e as vantagens de se adotar um animal abandonado, muitos morrerão antes de chegar à idade adulta. Bem, se as chances de um adulto ser adotado são pequenas, qual é a probabilidade de um cachorro idoso encontrar um lar? Não achei nenhuma estatística sobre isso, mas, pela experiência relatada por centros de zoonoses e ONGs, ela é quase nula. Pois um cachorrinho do meu bairro, na Zona Sul de São Paulo, foi na contramão das estatísticas e teve a sorte de ser resgatado.

A história desse cão, que foi batizado de Jim, começa a mudar no final da tarde de 20 de dezembro do ano passado. Deitado em um colchão de solteiro no final de uma rua sem saída, ele foi avistado pela minha vizinha Maria Aparecida Iesbik , mãe de outros dois legítimos vira-latas: o Ozzy e a Miucha. “Quando vemos um cachorro perambulando pelas ruas, a primeira coisa que nos vem à mente é o abandono, embora num primeiro momento preferimos acreditar que não, ele pode estar perdido. Então, seguimos nosso caminho e ele segue o dele, mas esse não estava por aí, ele já se encontrava prostrado”, diz Maria Aparecida.

Nos dias que se seguiram, o cãozinho continuava no mesmo lugar, e no dia 23 já com o coração apertado, ela tomou a decisão, no dia seguinte iria resgatá-lo. Assim foi feito, com uma coleira e umas folhas de jornal, conseguiu pegá-lo e não houve resistência. “Veio comigo numa boa, olhar triste e rabo entre as pernas”, conta.

As costas do cachorrinho já quase não tinham pelos, e Maria Aparecida imaginou que se tratava de sarna, mas eram pulgas, inúmeras. “A veterinária diagnosticou alergia à picada de pulga que, aliás, ele tinha pra quem quisesse ver”. Ainda na consulta duas informações que surpreenderam: o cão tem por volta de 12 anos e sofre de sopro no coração. “Os dentes dele estão muito ruins, não é castrado e tem sopro no coração. Todas essas informações me deixaram um pouco apreensiva, mas em nenhum momento eu senti arrependimento. Faria tudo de novo”, afirma.

Logo que chegou em casa, o peludo precisou ficar isolado por causa das pulgas e também por orientação da veterinária, pois como veio das ruas e não havia histórico, poderia ter alguma doença incubada. A adaptação com os outros dois foi relativamente tranquila, diz a mãe. “Eu não dei muita importância para comportamentos hostis, deixei que eles se entendessem sem me envolver muito, mas estava sempre alerta a qualquer imprevisto”.

O sortudo ganhou o nome de Jim Morrison para seguir a linhagem dos cães musicais de Maria Aparecida. Após dois meses, o peludo já fez vários exames e está em tratamento para controlar o sopro e tentando ganhar um pouco de peso. “Resgatar um cachorro das ruas em estado crítico, é enobrecedor, não importa se ele é novo ou velho. Penso que me tornei uma pessoa melhor e o Jim é extremamente grato, muito companheiro, dengoso e adorável”, completa.

Ela diz admirar o trabalho dos protetores de animais, mas ressalta que muito do sofrimento dos bichos poderia ser amenizado com mais campanhas de castração. “Muitas pessoas fazem isso. Você mesma, com seu esposo, já resgatou três. Existem os protetores de animais que não medem esforços e saem atrás de denúncias a respeito de maus tratos e abandono. Eu admiro muito esse trabalho, mas isso poderia ser amenizado e a vida desses protetores seria mais tranquila se não houvesse pessoas que maltratam e abandonam animais. Uma coisa muito importante são as campanhas de castração que deveriam ser mais efetivas. É preciso conscientizar a população que maus tratos e abandono são atitudes desumanas. Dizer que é crime põe medo nas pessoas, pois é associado com cadeia, polícia, leis. Isso, para mim, não dá resultado efetivo. Veterinários, centros de zoonoses, protetores, precisam se organizar para mudar esse quadro que ainda é bastante grave”, afirma.

Estou com você, Maria Aparecida, castração é a solução mais viável, e parabéns ao Ozzy, à Miucha e, especialmente, ao Jim. Cães de sorte, certamente.

3 comentários

  1. Que lindo, Angélica!! Muito feliz por saber que existem pessoas como a Cida, e mais feliz ainda por saber que o Jim vai ter sua terceira idade bem vivida com muito amor.

  2. Lindo, né Heloísa. Pena que são raras histórias como a do Jim. Mas a gente torce para que cada dia mais as pessoas se conscientizem e não abandonem seus bichos na rua ou que, ao menos, mais gente se interesse por adotar esses seres especiais.

  3. Olá, Angelica! Gostaria de agradecer a você pela oportunidade de contar minha história. Jim está cada dia melhor e meu coração infla quando olho pra ele, um anjo, dormindo, encolhidinho, pequenino. Meu desejo é que as pessoas possam fazer qualquer coisa que estiver ao alcance para preservar a vida dos animais. É isso.

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