Ensinando comandos 

A DJ fazendo o comando "toca aqui"
A DJ fazendo o comando “toca aqui”

Quando um cão tem algum problema comportamental, como agressividade, medo ou compulsão, a última coisa que o tutor deseja é ensinar comandos e truques para o peludo, e sim, tratar e resolver totalmente o problema apresentado. Mas uma coisa que poucos sabem é que ensinar comandos é parte fundamental de qualquer treinamento e pode ajudar, e muito, a resolver problemas comportamentais e também evitá-los.

Tomamos como exemplo um cãozinho que tem uma compulsão terrível por lambedura. Vocês já devem ter visto cães branquinhos com as patinhas avermelhadas ou marrons, decorrentes do contato frequente da saliva com os pelos e também da inflamação na pele. Em muitos casos, compulsões têm a ver com genética, situações estressantes ou conflituosas para o cão e problemas no ambiente, entre eles, a falta de atividade adequada gerando ócio. 

Uma das formas de melhorar a atividade do cão é justamente exercitando-o, através de atividades mentais como os comandos. Pular, saltar, rolar, girar, buscar objetos, fingir de morto – todos esses comandos ao mesmo tempo exigem física e mentalmente do cãozinho, beneficiando o tratamento contra a compulsão. 

No caso de cães agressivos, daqueles tidos como “dominantes”, o comportamento violento geralmente nada tem a ver com dominância, e sim com falta de educação e regras, que podem ser facilmente impostas através de comandos – em vez de entrar num confronto com  o cão para que desça do sofá, simplesmente ensinamos ao cão o comando “desce”; em vez de dar tudo o que o cão quer de mão beijada, mostramos que ele deve se comportar para ganhar as coisas, realizando um simples “deita e fica” antes de ganhar o tão sonhado petisco ou brinquedo.

Comandos melhoram a comunicação com o cachorro

Atualmente, os comandos ensinados aos cães não são somente uma forma de exibição da “dominância” do treinador ou da “obediência e servidão” canina, mas sim uma forma de comunicação eficaz entre duas espécies que não falam a mesma língua.  Por isso, é importante saber como ensinar os comandos, para que eles sejam fonte de prazer e diversão para o cão (e para nós também!) e sempre executados prontamente. 

Vamos nos colocar no lugar do cão: uma pessoa precisa aprender rapidamente um novo idioma para conseguir se comunicar com seres desconhecidos, que têm regras e costumes diferentes. Essa pessoa aprenderá melhor e de forma mais eficaz se for coagida ou se for altamente motivada e orientada? Com certeza a segunda opção, que nos leva às técnicas baseadas em reforço positivo! 

Em outras metodologias, os comandos podem ser ensinados através da manipulação do próprio cão, com o treinador posicionando-o da forma desejada, ou ainda usando a guia para fazer com que o cão se movimente de acordo, mas é perceptível que os cães que aprendem através do reforço positivo têm uma relação muito mais amistosa com os comandos.

Já falei sobre o reforço num artigo anterior, onde explico que para condicionar um indivíduo e aumentar a frequência de qualquer comportamento, é necessário que esse comportamento seja recompensado – ou seja, reforçado. No caso dos cães, o reforço mais poderoso é o alimento, porém outras recompensas também podem ser interessantes, como brinquedos ou elogios. Mas no caso dos comandos, usamos o reforço positivo e a técnica de “indução”, para moldar os movimentos do cão, ensinando de forma simples, clara e rápida.

Veja como ensinar o comando senta e fica

Com a ajuda dessas figuras, retiradas do site Golden Meadows, fica mais fácil entender como fazemos a indução de um comando simples, como o “senta”. (o texto continua abaixo)

Infográfico do site http://goldenmeadowsretrieversnews.com/
Infográfico do site http://goldenmeadowsretrieversnews.com/

Com o petisco na ponta dos dedos, colocamos próximo ao focinho do cão, fazendo com que ele siga o petisco, como se fosse um “imã”. Levantando a mão delicadamente acima da cabeça do cachorro, é possível que imediatamente ele abaixe o quadril. Assim que ele se sentar por completo, recompense-o com o petisco.

– No início do treino de qualquer comando, trabalhe com o cão um local familiar, sem muitas distrações, como na sala de casa. Vá aos poucos variando o local para o cão não “viciar”. Por exemplo, muitas pessoas só pedem o comando “senta” na frente do armário onde ficam os petiscos, dessa forma o cão entende que o comando só vale neste lugar. Aos poucos, treine em locais diferentes, como no hall do prédio, na calçada de casa, numa rua próxima.

– É normal o cão não atender aos comandos em lugares muito estimulantes, como praças e parques com cães e pessoas, por isso, treine bastante em lugares normais e neste outros locais, leve um petisco especial para prender mais a atenção  do cão.

– Durante o aprendizado, o cão precisa ver e farejar a comida na mão que o induz a fazer o movimento desejado, porém com o tempo ele deve ficar independente desta comida, aceitando só os comandos gestual e verbal. Para isso, gradualmente “esconda melhor” o petisco na mão, fazendo o gesto de forma cada vez mais clara, até que não precise mais do petisco, e recompense o cão com a outra mão. Desta forma, ele prestará atenção no gesto e 

– Caso o cão não atenda o comando no primeiro pedido, evite ficar repetindo várias vezes o comando verbal. Provavelmente ele não está atendendo por estar distraído, ou talvez ainda não tenha aprendido totalmente. O ideal é fazer com que ele preste atenção em você: faça um som, pode ser um assobio ou algum barulhinho que chame a atenção do cão; elogie quando ele olhar para você; mantendo contato visual com ele, faça o pedido novamente, com comandos gestual e verbal bem claros, uma vez só. Recompense bastante.

– Para que o cão aprenda a fazer os comandos mesmo sem petiscos como recompensa, habitue-se a pedir sempre algum comando antes de fazer algo que o cão gosta, como por a coleira para passear, por exemplo. Peça o comando “senta”, e como recompensa o cão coloca a coleira para sair. O cão quer subir num sofá que não tem sempre acesso? Peça um “senta e dá a pata” e use o acesso ao sofá como reforço. Ao receber visitas, peça para o cão aguardar deitado o carinho das pessoas. As recompensas podem ser as mais variadas, lembrando da regra: “Recompensa é tudo aquilo que o cão gosta e deseja naquele momento!”.

*** Por Juliana Nishihashi, Adestradora e Consultora Comportamental da Cão Cidadão

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